segunda parte

              

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

poema

 

meu poema

sintetiz’eu

 

meu poema

adormeceu

 

meu poema

enriqueceu

 

meu poema

implumeceu

 

meu poema

doeu, doeu

 

meu poema

apeceu, venceu

 

meu poema

num é meu

 


 a gota

 

a cínica gotícula

de estalactite gótica

espera pedra

ou esperará pedra

uma eternidade

pra se tornar gota

pra cair de fato

sem molhar nada

sem destruir caverna

ou acordar o urso

o que ali hiberna



âmago

 

pari o horizonte

coloquei estrelas

 

no peito do infinito

 

haviam aeronaves

coloquei palavras

 

na boca da parteira

 

criei uma linguagem

um rito de passagem

 

um rio de estio

 

um lago de lágrimas

parido na enseada

 

todo mundo colorido

 

em tintas pastel

o céu comestível

 

as chuvas de papel

 

eram confete

brigadeiro e cocada

 

todos na estrada

 

do meu estômago

pari meu âmago

 


o crescimento do leão

 

leão caminha

e altivo 

percorre o cômodo

de um corpo

com um embasamento

de quem encarneceu

seus dentes

e hoje vê corujas nos seus olhos

gôndolas de pesadelo



noturnália

 

caída a noite

bêbeda de lua

 

erguida a guincho

e o sol de força

 

fez o mar

derramar     

 

e dividir o fogo solar

do fogo lunar

 

as costas quentes

foram erguidas

 

e noite vestida

de penhoar de estrelas

 

ficou assim vigília

até que aurora

 

veio roubar as estrelas

esculpir sombras no dia


canção só pra triângulo

 

infinitude de cabeça de vento

esse menino tem miolo mole

 

e os abutres virão com tempo

levar suas entranhas, o fole

 

e quando o miolo de pão

for dos pintos e não da manhã

 

a tarde se levantará gavião

não virá feito gata e sim satã

 

desmiolará os miolos de uns zés

desgrenhará o cabelo de outros

 

levará a mão e os anéis

esperará, a noite vem pra todos

 

e vampiresca nossa manhã se evade

enquanto os ossos da noite dançam

 

no acordeom, caixa, bumbo do leviatã

à tarde, o cosmos dança suave; arde

 



 
continua