Da janela vejo o Corcovado

  
 

 

 

 

colheres

na amplitude eu te guio

mascando gomas de fio

trilhando teu corpo de rio

 

na diminitude eu apago

o meu cigarro de afago

falo ao infinito, indago

 

queres tu a coerência?

ou quem sabe existência

da amplitude na essência

 

nem tudo como queres

nem todas as mulheres

se dão ao touch das colheres

 


Poema táctil

 

O poema fácil

É o de metalinguagem

 

Ninguém sabe

Falar a tal língua

 

Por isso à mingua

Fica quem sabe

 

Pensado sacanagem

Do poema táctil

 



poemad

aperna

 

eterna

etenra

aperna

expele

sperma

 



Poema Bandeira

(o poema praticando)

 

 

 

Bandeira tremula

Na Pasárgada

Instantes de vento

 

O vento desfolha

“vou me embora...”

Instantes de árvore

 

Instantes de árvore

Instantes de vento

Tendo Bandeira raiz

 

Ao olhar da trêmula

Bandeira de vento

Bandeira de tempo 

 



Poema Um

 

 

 

Disto de você

Eqüidistante

 

Distante de você

Neste instante

 

Perto do mirante

Aurora de ser

 

Parte da arfante

Aventura de ser

 

As águas batendo

No mirante

 

Instante por instante

Maestro!

 



 

Poema Cigarro

Na ponta a brasa

Dentro a fumaça

 

Ao lado o maço

Uma tragada

 

No pescoço

O laço da gravata

 

Ou quem sabe

O câncer mata



  

Ligue Já

  

 

Dez horas

 

Pílulas

Encontro

Marcado

 

Oito horas

 

Firulas

Walter

Mercado



 

Poema Chaga

 

 

Minha alma chaga

Se apagará

Chama, no Nada

 

Mostrará o fim

Da azeitona

Começo da empada

 


 

 

Poema de Amor

 

 

Um poema

Quando amor

 

Deve algemar

A dor

 

Botá-la presa

Fetiche de cama

 

Come-la na mesa

Rolando na lama

 

E sujo e porco

Possa o sexo

 

Servir de engodo

Ou pôr nexo

 

Numa vida prenhe

Brotando plexo

 

E o gozo ganhe

Um olhar perplexo



  

Poema Batida

 

 

e você veio devagar

tirando os freios

                                                      

                          do olhar

 

bateu de frente

com um beijo meu

 


 

poema mãe

 

         pra Sylvia

 

graças a mim

a vida lhe deu

pontapés n’alma

 

dores na coluna

teto subindo boca

perdida na fala

 

protegi a fauna

soltei os cachorros

quando flores dar?

 

graças a mim

engaiolado de ti

será garça ao fim


 

Palmar

 

Contemplo o lago

Afagando as margens

Com pés de pato

 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poema Corvo

 

O espantalho espanta

Ou mostra atalhos

 

O corvo é um mantra

Negro de sombra

 

O espantalho e o corvo

Negros d’alma branca

 

Estátuas empalhadas

Entre presas de mamute



 

Poema Abandono

 

Abandonado

O poema quer voltar

 

Sem metáforas

Sem conotativas

 

Apenas poema

Esse canal fechado

 

(Para a poesia)

Quer voltar

 

Esse rio

Represado

 

Lago artificial

Fonte, ponte

 

Longe do copo

Sujo de batom

 

E esperma

Quero gozar!



  

 

 

 

De mão em mão

 

 

Canetas compro

E somem

 

Não são mulheres

De um só homem



Poema Plana

 

1

Plana a folha

Alma e rara

 

Plana manhã

Malva e pára

 

Plana e pára

Sobre a toalha

 

Plana a folha

Sobre a muralha

 

2

Plana e risca

Caminhos e veias

 

Plana sobre

Minhas teias

 

Plana tal navalha

Mosca mortalha

  


Acamada de pó

Sobre a alma

 

O ácaro silêncio

As lupas

E as lunetas

 

Lentes bifocais

perto e longe

frente e trás

bissexuais.

 

Como se amam!


   Continua

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