Clausura  

                 

 

   

Astronauta

 

                  a José Silvério Trevisan

 

 

 

Estar preso

Não é ficar

Obeso

 

Estar preso

É não

Se alimentar

 

Ver filmes

De ficção

Em casa

 

Sonhar

Com a nasa

Star livre

 

Astronauta de si



  

Nau

 

 

pedras n'água

círculos,

odes às ondas

 

perdas n’água

náufragos

presos no infinito



Portas

 

 

 

portas

pra que servem

Portas vivas?

 

Mortas todas

As portas

Um mundo sem portas

 

Sem divisão

Sem impedir

Os que ficam

Os que vão

 

Portas pra conter

Pra reter

Pra barrar

Nunca amar

 

Amo

E quem deixou

Me ama

de portas abertas

 


 

loucura

 

 

clausura

usura pura

 

costura e dura

não cura

 

clausura escura

impura

 

ditadura

da loucura



Argênteos

 

 

 

O Sol deposto

- astro rei -

       saiu de cena

 

Pediu então

Para o poeta

Pratear o mar

 

Surgiu a Lua

Sem diadema

fios de cabelos

 

Aos sete ventos

- pólens de prata -

Na flor da noite

 

 


 

Diadema

 

 

 

Algumas bobagens

Digo-as para liberdade

Para olhar teu infinito

De mulher querosene

 

Aquela que se apaga

Nas anáguas d’água

Flutuando no catecismo

De orações ao escuro

 

Onde seus cabelos

Fogem de todos arrepios

São de boneca? Diz:

- Quimioterápico talvez?

 

Assim ouço o teu eu

E escrevo um poema

Tão preso (ao cabelo)

Como a sua diadema



 

 

Ana Cristina César

 

 

Eu que te disse

E esqueci o que disse

 

Desisti da velhice

Me tatuei na madrugada

 

Olhando a lua de Cortaza

Tal como eu nova

 

E enforcada

 

 


  

 

Do cais ao Caos

 

 

 

evebody’s partyng

partindo o bolo

 

se desancorando

 

evebody’s parting

partindo

 

do cais ao caos

 




  

Prender

 

 

Deixo você

Construir

O edifício

De destruir

 

Deixo você

Se perder

Se prender

A só existir

 



Urubu tatoo

 

 

tatuei você

no meu peito

bem a esquerda

 

briguei com você

 

restaurei o peito

 

voltei pra você

tatuei o retorno

 

briguei com você

 

meu corpo

sem espaços pra volta

ouviu: - me solta

 

te larguei

briguei e voltei

enfim me achei

 

tatuado

abajour

em outra vida

urubu



 

 

portasfechadas

todos fechados

em suas portas

 


 

Passarinhos

 

         a Sergio de Castro Pinto

 

 

 

 

 

todos estão

         livres

o tempo todo

 

sujeitos às

         pedras

dos bodoques

 

os medos

         algemas

medulam...

 

no silêncio

         alçapões

                                       são abertos...

 

 

 


 

Gym

 

o silêncio é um espelho que só reflete

o que quer

quando o querer

discorda

podemos nós ver como somos

grandes olhos

boca negra

e alguns pêlos pelo corpo

delgadamente tosco

pela acrobacia

da ginástica dos dias

e da existência

 


Colecionador

 

 

vivo

colecionando ar

vida

a nascer

e a morrer

 

vivo

colecionando ar

brisa

a nascer

e acabar

 

vivo

colecionando ar

sei

o que quer

sair

e entrar

 

vivo

colecionando ar

no vidro

de maionese

ou no vácuo do lugar

 

(colecionar

é o dobro

do que ter)

parte do nada

tudo ser

 


 

 Volta